A iluminação cênica como modificadora de espaços



por Rodrigo Assis “Horse”

 

A iluminação tem o poder de modificar e alterar o espaço em seu entorno. Podemos ver isso em todos os lugares que nossa visão alcança, mas na iluminação cênica, que é a área em que atuo, podemos contar histórias e até mesmo construir cenários com a luz.

Inicialmente para se trabalhar a luz como elemento modificador, temos que analisar alguns detalhes de sua utilização. Assim, vou apresentar aqui três características que usamos nos teatros, dança e shows, que são as áreas mais atuantes de um profissional de iluminação.

Temos três efeitos básicos que, a partir deles, podemos desmembrar em suas variáveis, construindo assim ideias e conceitos para nossos projetos. O primeiro deles é a luz frontal, que usamos para revelar. Normalmente, ela é utilizada em um ângulo de 45 graus em relação ao objeto ou pessoa a ser iluminado. Este tipo de efeito teve sua fundamentação teórica apresentada e defendida pela primeira vez por Stanley McCandless (1987-1967). Ele dividia o palco em 9 áreas distintas e cada uma delas era iluminada com dois refletores frontais em um ângulo de 45 graus e um de contraluz. Assim, ele conseguia que toda a área fosse iluminada com uniformidade. Sempre usamos esta posição de luz em espetáculos teatrais como comédia e temas mais realistas, como as obras de Nelson Rodrigues. Isso porque aqui queremos mostrar os objetos, as pessoas, suas expressões, revelar todo o espaço a ser apresentado a este público que ali está. Então, podemos levar este conceito, por exemplo, a um escritório no qual temos diversas mesas de trabalho e, assim, temos que ter uma visão clara deste espaço e destas pessoas que ali estão.

O segundo efeito é a luz lateral. Ela é basicamente usada para destacar as formas dos objetos. Aqui vemos uma luz que é para modelar o objeto ou a pessoa a ser iluminada, como, por exemplo, em um espetáculo de dança, balé ou dança contemporânea. Neste caso queremos valorizar os movimentos dos bailarinos, suas formas, seus corpos, seus volumes. Este tipo de efeito cênico foi apresentado pela primeira vez por Jean Rosenthal (1912-1969), no ano de 1934, para os espetáculos de Marta Graham (1894-1991). Podemos usar este tipo de efeito na arquitetura e nos interiores, para valorizar uma peça com formas assimétricas e, assim, conferir um ar mais cênico e teatral para o objeto.

O terceiro efeito de luz é a que vem por trás dos objetos, a chamada de contraluz. Este tem o efeito de emoldurar os objetos, é muito usado em shows e eventos efêmeros. Com este efeito conseguimos dar profundidade ao objeto a ser iluminado, podemos trabalhar com cores sem distorcer as texturas dos objetos, dando assim uma nova forma a eles. Enquanto trabalhamos com uma luz frontal para revelar, inserimos um contraluz para gerar efeitos variados e dar profundidade ao objeto no espaço. Podemos usar este tipo de efeito, por exemplo, em exposição de obras de arte, como estátuas, ou mesmo objetos decorativos em nossa residência. Enquanto recobrimos nosso objeto com uma luz frontal de cores neutras, podemos vir com um contraluz em uma cor mais quente, assim, podemos dar um ar mais dramático à cena.

Podemos ver que com três efeitos básicos podemos criar diversos outros, e olha que nem entramos nas cores, iluminação dinâmica, outros posicionamentos e efeitos como luz de ribalta (uplight), iluminação simétrica e assimétrica, foco de luz….

Estes efeitos básicos podem ser inseridos em qualquer tipo de projeto, mas temos que ter a consciência de que eles sempre serão baseados no conceito luminotécnico/cênico para a cena ou espaço a ser iluminado. Por isso, sempre antes de pensar na inserção desses efeitos, temos que levar em conta o que o espaço necessita, quais as necessidades e aplicabilidades que vamos conseguir, o que queremos valorizar e quais ideias queremos passar para as pessoas que estão ali visualizando aquele ambiente.

Um bom projeto de iluminação é constituído por fundamentação conceitual da sua obra, com apresentação de bases técnicas para certificar a aplicabilidade dele, como já dizia Goethe (1749-1832), “jamais se origina uma ciência sem uma percepção poética”.


 

Sobre Rodrigo Assis “Horse”
www.rodrigohorse.com.br
Trabalhando há mais de 20 anos com projetos de Iluminação voltados para artes cênicas, shows, instalações, desfiles, interiores e afins. Formado em Design de Interiores pela Faculdade Cambury, pós-graduado em Docência do Ensino Superior (FABEC) e em Master em Arquitetura e Lighting (IPOG), professor de Pós- Graduação do IPOG (Instituto de Pós-Graduação), UNICURITIBA, UniRV – Universidade de Rio Verde e Unigran – Centro Universitário da Grande Dourados, em Campo Grande. Autor do livro “DESIGN DA ILUMINAÇÃO – Iluminação Cênica de um espetáculo teatral”. Atualmente é funcionário efetivo da UFG (Universidade Federal de Goiás) como iluminador, responsável pelo laboratório de iluminação  Artes Cênicas. Organizador do evento Encontro Som & Luz (www.encontrosomeluz.com.br), evento que reúne profissionais da área de iluminação e som, colunista da revista Design de Interiores BR (https://designdeinterioresbr.design). Coordena o projeto em andamento “Museu da Luz”, a ser instalado na UFG, representa a Cast Soft (Canadá), com o projeto estudantil sobre o software Wysiwyg Lighting e seus produtos.
Instagran: @rodrigohorse / @horse_iluminacao | Facebook: RodrigoHorse




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