Lições luminotécnicas aprendidas em um projeto de relojoaria



Quando um projeto é bem executado, ele se mostra como uma verdadeira oportunidade de aprendermos com seus acertos e escolhas criativas. Trago para essa entrevista exclusiva uma verdadeira aula dada pelo doutorando em Tecnologia da Arquitetura pela Universidade de São Paulo (USP), o light designer Ruy Soares, sócio fundador da WeLight, e que há 30 anos trabalha com iluminação e automação. Tenho a enorme satisfação de contar com a participação desse exímio profissional no corpo docente dos cursos de Master em Arquitetura e Lighting; Master em Iluminação e Práticas Projetuais em Arquitetura; Design de interiores, ambientação e produção do espaço; e do Master em Arquitetura Comercial e práticas projetuais, dos quais coordeno pelo Instituto de Pós-Graduação IPOG.

Convidado pelo arquiteto Luciano Dalla Marta a assinar o projeto luminotécnico da conceituada relojoaria MonteCristo, no shopping JK Iguatemi em São Paulo, Ruy emprestou todo o seu conhecimento em benefício da valorização do ambiente e das peças. E agora, nos prestigia ao compartilhar seu conhecimento aplicado às soluções que ofereceram resultado, eficiência energética e beleza acima de tudo a esse prestigiado estabelecimento.

 

Lorí Crízel – Qual foi o resultado almejado pelo arquiteto Luciano Dalla Marta ao te pedir um projeto luminotécnico para a relojoaria Monte Cristo, no shopping JK Iguatemi? Fale um pouco sobre o conceito da loja e como seu projeto se alinhou a ele.

 

Ruy Soares – O arquiteto nos procurou ao notar a insegurança da cliente com relação aos resultados colhidos com outros projetos luminotécnicos. Diante dessa constatação resolvi investigar a razão de tal insatisfação para poder ser ainda mais assertivo e comprovar os efeitos positivos de um bom projeto luminotécnico.

Após analisarmos as outras lojas descobrimos que a cor clara dos expositores existentes fazia com que as joias e demais produtos expostos perdessem destaque, o que foi mostrado para a cliente por meio de uma análise de luminâncias entre produto e fundo. A troca da cor dos expositores para outra escura resolveu este problema.

Nosso desafio, que deu origem ao partido de iluminação, foi o de transmitir o conceito de requinte das marcas criando uma atmosfera agradável para os clientes, facilitando a visualização dos produtos no corpo a partir das cadeiras destinadas a eles nas estações de venda, uma vez que não há provadores na loja. Além de proporcionarmos harmonia entre a iluminação da loja e a iluminação do shopping JK Iguatemi.

 

Lorí Crízel – Como você fez a composição do seu projeto nos diferentes pontos da loja? Vitrine, área de venda e área de balcões? O que priorizou em cada uma das áreas da relojoaria?

 

Ruy Soares – A vitrine precisava destacar os produtos dentro dos expositores e fazer um convite ao acesso à loja. O contraste obtido entre as joias e o revestimento dos expositores favoreceu esta leitura. Havia no fundo da vitrine uma cortina feita de malha de ferro, que teve sua textura valorizada pela iluminação, e um portal na entrada da loja, cujos níveis de luz mostravam em destaque o caminho para sua entrada.

A iluminação geral da loja procurou utilizar a mesma linguagem dos corredores do shopping, com sistema de iluminação geral indireta, o que foi particularmente desafiador, pois tínhamos um pé direito de 4,5m. Obtivemos este resultado como uso de barras LED com elevado fluxo luminoso e eficácia acima de 150lm/W.

As áreas de vendas receberam luz de destaque também no plano vertical para que as clientes pudessem visualizar adequadamente brincos e colares.

O balcão central recebeu um sistema de iluminação de destaque com o cuidado de não haver a projeção de sombras quando os clientes de debruçarem sobre ele para ver os produtos. Esta questão foi melhor resolvida com o acréscimo de um sistema complementar de iluminação de destaque, dentro do referido expositor, composto de mini hastes equipadas com fibras óticas.

 

Lorí Crízel – O que um Lighting Designer deve priorizar ao pensar em montar um projeto para relojoaria? Como o uso da luz deve favorecer esse tipo de ambiente? Realçando as joias? Criando um ambiente de confiança (visto que os investimentos são de alto valor)? Como a luz contribui para uma experiência de compras dentro de uma relojoaria?

 

Ruy Soares – Há vários parâmetros a se considerar. Em termos de destaque para os produtos, o ideal seria iluminar dourados com temperaturas de cor baixas (quentes) e os prateados com temperaturas de cor mais altas (frias). Ocorre que a disposição dos produtos nos expositores é constantemente modificada e os funcionários não se preocupam em ajustar as temperaturas de cor, não nos deixando alternativa a não ser unificá-las. Conforme mencionamos anteriormente, para melhor visualização dos produtos o cuidado com a cor dos expositores é primordial para que haja mais luminância vinda dos produtos que dos expositores.

Quanto à ambiência, é necessário que a iluminação seja confortável e acolhedora, elevado índice de Reprodução de Cores (IRC) e baixa temperatura de cor, criando contrastes e valorizando os produtos, para que o cliente permaneça na loja o maior tempo possível, já que se trata de uma venda especializada e de alto valor financeiro. Também é necessário haver iluminação no plano vertical que favoreça ao cliente visualizar as joias no corpo.

 

Lorí Crízel – Quais tecnologias você utilizou no projeto? Led? Outras?

 

Ruy Soares – LED e Fibra ótica.

 

Lorí Crízel – Destaca-se no layout da loja um painel iluminado em verde aos fundos da área de expositores. Como você idealizou a presença dele ali? A sua função vai além da decorativa?

 

Ruy Soares – O referido painel segue os padrões da ROLEX e veio direto da Suiça. Não tivemos participação neste recurso, pois faz parte da identidade da marca.

 

Lorí Crízel – Quantos meses foram utilizados entre a idealização do projeto e sua instalação na loja?

 

Ruy Soares – Em lojas de shopping tudo acontece muito rápido. Foram três meses ao todo. Após a entrega do projeto de arquitetura, tivemos um mês para projetar e em dois meses a empreiteira fez a aquisição e instalação das soluções.

 

Lorí Crízel – Essa é a sua primeira parceria com o arquiteto Luciano Dalla Marta ou já projetaram juntos antes? Em quais projetos? Podemos mencionar alguns?

 

Ruy Soares – A Joalheria Montecristo consolidou a parceria entre a WeLight e a LDM Arquitetura. Continuamos trabalhando juntos até hoje, prioritariamente para projetos residenciais e comerciais como a Joalheria Epiphanie e a rede de lojas One-Up.

 

Créditos do projeto:

Luciano Dalla Marta Arquitetura

Iluminação: WeLight

Fotos: Gui Morelli

 

Sobre Ruy Soares:

Doutorando e Mestre em Tecnologia da Arquitetura pela FAU-USP com pesquisa em Luz e Saúde, pós-graduado em ILUMINAÇÃO E DESIGN DE INTERIORES pelo IPOG, possui quase 30 anos de experiência em iluminação, inicialmente como professor da Universidade Gama Filho (RJ), em seguida como sócio fundador da empresa WeLight, que desenvolve projetos de iluminação arquitetônica e de automação. Sua carreira tem se destacado por projetos inovadores e sempre em sintonia com as tecnologias mais

recentes.

 





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